Carta de Pina Manique ao Duque do Cadaval – 22/10/1795

Todos conhecemos Diogo Inácio de Pina Manique como uma espécie de super-polícia da sua época, apesar de possuir um currículo bem mais impressionante e extenso do que isso. A sua carreira, apesar de sempre enquadrada na Administração Pública e ao serviço da coroa, não o impediu de ser um profissional pragmático e ciente de que tinha investida uma missão de servir os interesses do povo e da nação portugueses não cedendo aos interesses particulares nem corporativos.

Em determinada altura o Duque do Cadaval ter-se-ía dirigido a Pina Manique de uma forma excessivamente familiar, puxando dos galões de ser um procurador do reino com muitos anos de experiência. O que hoje sabemos é que Manique não gostou mesmo nada. Sentindo-se desrespeitado escreveu a seguinte carta ao Duque. Assinou "Pina Manique, Corregedor de Santarém", uma assinatura no mínimo irónica pois, por essa altura, ele era já muito mais que "apenas" o corregedor de Santarém, possuindo amplos poderes na administração do reino e a confiança pessoal da família real para muitos assuntos de Estado. Nesta carta, podemos ver que de algumas coisas não é possível acusar Pina Manique: de falta de capacidade de síntese, de apego ao cargo, de falta de espinha dorsal e de falta de espírito. Aqui está essa famosissíma carta:

"Exmo. Sr. Duque de Cadaval,
Se meu nascimento, embora humilde, mas tão digno e honrado como o da mais alta nobreza, me coloca em circunstância de V. Excia. me tratar por tu caguei para mim que nada valho. Se o alto cargo que exerço, de Corregedor da Justiça do Reino em Santarém, permite a V. Excia., Corregedor-Mor da Justiça do Reino, tratar-me acintosamente por tu, caguei para o cargo.
Mas, se nem uma nem outra coisa consente semelhante linguagem, peço a V. Excia. que me informe com brevidade sobre estas particularidades, pois quero saber ao certo se devo ou não cagar para V. Excia.

Santarém, 22 de outubro de 1795.

Pina Manique
Corregedor de Santarém"

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