Escrita

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Escrita 

Esta página é uma cábula pessoal para não me esquecer de certas coisas numa viagem interessante.
 
Evolução: pictogramas -> ideogramas -> sílabas -> alfabetos.
Ciências envolvidas: paleografia, etnografia, antropologia, epigrafia, quimica, engenharia dos materiais.
Técnicas: pesca, caça, olaria, agricultura, pecuária, metalomecânica, fundição, técnicas de madeiras,  petroquimica.

Materiais para suportes de registo

Pedra, osso, argila/barro, madeira, peles de animais, tecidos, bronze, latão, alumínio, aço, prata, ouro, papiro, pergaminho, papel (pasta de celulose), cera, vidro, plástico.

Materiais para registo

Materiais que possuam pigmento e materiais para controle da viscosidade e preservação. Origem pode ser animal, vegetal e mineral. Exemplos: sangue e outros fluídos animais (tinta do choco, por exemplo), sucos de vegetais (amoras, mirtilos, beterraba, limão, laranja), gordura (origem animal e vegetal como o óleo de amêndoa e de linhaça), carvão, óxido de manganês, negro de fumo, água, urina, ocre, clara de ovo, mel, gomas vegetais (por exemplo, goma xantam como espessante), ácido oleico, dietiletanolamina, alcóol benzílico (fenoxietanol), eosina, ftalocianina, terebentina,...

Materiais para instrumentos de escrita

Pedra, junco, bambu, penas, latão, alumínio, aço, ouro, prata, estanho, chumbo, antimónio, madeira, conchas de bivalves, lava, resinas, plástico, silício, tintas, corantes. Na esmagadora maioria dos casos, os instrumentos de escrita modernos são feitos de várias peças funcionais diferentes. Cada uma é fabricada em material diferente. Pode escolher-me o material que melhor se adequa à função de determinada peça e outra peça ser feita em material diferente por se adaptar melhor à função dessa peça. Ou seja, um instrumento de escrita contemporâneo é, em regra, feito de uma composição de diferentes materiais.

Tipos de Instrumentos

Stilus: pequeno estilete de chumbo usado para escrita sobre papiro. Usado nos territórios do império romano.

Qalam: uma haste de junco por forma a manter a parte oca do junco como depósito de tinta e a ponta sendo afiada até se conseguir a forma de um estilete. É efectuado um corte fino longitudinal no estilete. Comum na bacia do mediterrâneo e médio oriente. Instrumento de eleição para caligrafia com caracteres coptas e arábicos. De utilização fácil para caracteres romanos/itálicos. Testei uma vez fabricar um com x-acto. O junco usado não era o melhor (demasiado jovem ainda e por isso demasiado fino). Foi possível conseguir um instrumento de escrita funcional e macio mesmo sem outras operações. De seguida procedi a polimento da ponta do estilete com lixas metálicas de medida 800 a 1500 e a escrita tornou-se especialmente suave e macia.

Pena: possui a vantagem de a matéria prima ser abundante em sociedades com base em actividade agrícola e pecuária. Não é necessário encontrar junco ou outros materiais mais raros. As de uso mais frequente são penas de pato, ganso ou cisne (por ordem de qualidade) largada durante a muda das penas das aves (para os gansos normalmente entre finais de Junho a início de Agosto). Penas de cisnes são maiores e mais raras, logo bastante mais caras. Pena de avestruz, corvo, águia, coruja, falcão e peru são também usadas. As penas podem ser decoradas com pintura. A pena é lavada com uma substância detergente para remover a gordura animal do material e de seguida seca. A ponta é afiada com a forma de um estilete no qual é efectuado um fino corte longitudinal para deixar escorrer a tinta por acção capilar e da gravidade. O interior oco junto à ponta (cálamo) serve de depósito. Após bastante tempo de utilização necessita ser afiada novamente. Usada desde antes de 600 a.C. até aos nossos dias. Actualmente usada apenas para fins didácticos e lazer. No séc. XVII são inventados afiadores próprios para as penas.  
 
Lápis: inventado no século XVII, em Inglaterra. Estilete de grafite envolvido em madeira. O francês Conté inventou, no século XVIII, um lápis mais funcional ao misturar a grafite com argila e envolver o estilete mineral em madeira de cedro. Descobriu que ao variar a percentagem de grafite e argila alterava as propriedades do lápis. Conseguiu com a sua fórmula criar vários graus de dureza diferentes e criou uma escala para as definir: -> 9B, 8B, 7B, 6B, 5B, 4B, 3B, 2B, B, HB, H, 2H, 3H, 4H, 5H, 6H, 7H, 8H<- (H=hard, B=brand). Pouco tempo depois, em Nuremberga, Kaspar Faber inicia a produção de lápis de forma industrial. Desde essa altura a família Faber-Castell produz lápis de alta qualidade. Em Portugal, o fabrico de lápis de forma industrial tem início em 1936 com a criação da Viarco.
Actualmente usam-se polímeros em substituição ou como adição à argila.

Fabricantes  / Marcas Activos (escrita pessoal)

Legenda
País de Origem: o país de onde é originária a concepção, ideia ou marca.
Fundação: Ano de criação da empresa ou quando a empresa iniciou fabrico de instrumentos de escrita.
Tipo de Instrumento: A = Caneta de Aparo; T = Caneta de Tinta Permanente; V = Caneta de vidro; E = Esferográfica; R = Rollerball; L = Lápis/Lapiseira/Porta-minas; M = Marcadores; P = Pincel; D = Stylus; X = Caneta Técnica; B = Airbrush.

País Origem Fabricante Tipo de Instrumento Fundação
Suécia  Anoto / Livescribe D
1996
Estados Unidos da América  Atelier Lusso T
?
Itália  Aurora T; E; R
1919
Suécia  Ballograf E; L; D
1945
França  BIC E; L; M; D (*)
1950
Itália  Bortoletti A; V; E; R
1980
Itália  Campo Marzio T; E; R
1933
Espanha  Clavijo T
?
Reino Unido  Conway Stewart T
1905
Japão  Copic (G.Too) M; X; B
1987
Áustria  Cretacolor A; L
1863
Estados Unidos da América  Cross T; E; R; L
1846
Austrália  Curtis Australia T; E; R
?
Itália  Delta Italy T
1982
Alemanha  Diplomat T; E; R; L
1922
Estados Unidos da América  Edison T
?
Estados Unidos da América  Énsso T
?
Alemanha  Faber-Castell T; L (*)
1761
Estados Unidos da América 
 FPR - Fountain Pen Revolution T
?
Estados Unidos da América  Franklin Christoph T
2001
Bélgica  Garcia Deschacht T
2010
Estados Unidos da América  Grayson Tighe T
2000
Espanha  Inoxcrom T; E; R; L
1946
Reino Unido  Italix T
1989
República Popular da China  Jinhao (Shangai Qiangu) T; E; R; L (*)
?
Estados Unidos da América  Karas T
?
Alemanha  Kaweco T; E; L (*)
1883
Turquia  Kilk T
2020
Formosa  Laban T
1981
Alemanha  Lamy T; E; R; L; D (*)
1930
Reino Unido  Manuscript A; T (*)
1856
Japão  Midori T; L
1960?
Japão  Mitsubishi / UniBall E; R; M; P
1887
República Popular da China  Moonman (Shanghai Jingdian) T
?
Itália  Montegrappa T
1912
Estados Unidos da América  Noodler's Ink T; P (*)
2004
Japão  Ohto R; X
1919
Itália  Omas T
1925
Reino Unido  Onoto T
1920
Alemanha  Otto Hutt T
1920
Estados Unidos da América  Paper Mate E; R; L; M (*)
1941
Estados Unidos da América  Parker T; E; R (*)
1888
Alemanha  Pelikan T; E; L; M
1838
Japão  Penac E; R; L; M; X(*)
1967
República Popular da China  PenBBS T
?
Japão  Pentel E; R; L; P
1946
Japão  Pilot T; E; R; L; P
1915
Itália  Pineider T
1774
Estados Unidos da América  Retro51 T; E; L
?
Alemanha  Rotring A; T; E; R; L; D; X
1928
Japão  Sailor T; E; R; L; P
1911
Japão  Sakura E; R; L; M; P; X (*)
1921
Itália  Santini T
1998
Estados Unidos da América  Schondsgn T; E; R
?
Alemanha  Staedtler T; E; R; L; M; D; X (*)
1835
Itália  Tibaldi T
1916
Formosa  TWSBI T; L
2009
Itália  Venvstas T
?
 Viarco L(*)
1936
Itália  Visconti T; E; R
1988
Alemanha  Waldmann T; E; R; L
1918
Japão  Wancher T; V; E; P
2000
França  Waterman T; E
1888
Estados Unidos da América  Xezo T; E; R
2001
Reino Unido  Yard-O-Led T; L
1816

Número de Fabricantes / Marcas Activos por Região 

Países

Estados Unidos da América ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ ♥ (13)
Itália ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (11)
Japão ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (10)
Alemanha ♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (9)
Reino Unido ♥♥♥♥♥ (5)
República Popular da China ♥♥♥ (3)
Espanha ♥♥ (2)
Formosa ♥♥ (2)
França ♥♥ (2)
Suécia ♥♥ (2)
Austrália ♥ (1)
Áustria ♥ (1)
Bélgica ♥ (1)
♥ (1)
Turquia ♥ (1)

Continentes

América do Norte: ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (13)
Ásia: ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (15)
Europa: ♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥♥ (35)
Oceania: ♥ (1)

Número de Fabricantes Activos por Século da Sua Fundação


Aparos metálicos

O aparo pode ter ponta esférica, terminar em ponta afiada sem esfera, ter forma rectangular (aparos itálicos) e pode ser mais ou menos flexível.

Em termos de materiais normalmente é usado o aço ou o ouro. O ouro produz aparos mais flexíveis. Pode ser usada uma ponta esférica de irídio (um metal muito duro resistente a temperaturas elevadas e a corrosão).

O aparo com ponta esférica é referido por uma letra que descreve grosso modo a espessura do traço produzido.

A: aprendizagem (médio espesso e suave).
EEF: extra extra fine (extra extra fino).
EF: extra fine (extra fino).
F: Fine (fino).
FI: fine italic (fino itálico).
FO: fine oblique (fino oblíquo).
FA: falcon.
SF: soft fine (fino semi-flexível).
FM: fine medium (fino/médio).
SFM - Soft Fine Medium (fino/médio semi-flexível).
M: medium (médio).
MI: medium italic (médio itálico).
MO: medium oblique (médio oblíquo).
RMO: medium reverse oblique (médio oblíquo invertido).
SM: soft medium (médio semi-flexível).
B: broad (largo).
BI: broad italic (largo itálico).
BO: broad oblique (largo oblíquo).
EB: extra broad (extra largo).
BB: double broad (duplo largo).
EEB: extra extra broad (extra extra largo).

As espessuras da ponta do aparo variam bastante de fabricante para fabricante. Um F da Lamy equivale a um M japonês ou da Faber-Castell, consegue-se um traço mais fino com um F da Faber-Castell do que com um EF da Lamy, por exemplo. Existem fabricantes apenas de aparos, que podem ser colocados em canetas de vários fabricantes. Esta operação invalida garantias de assistência a cliente ou suporte técnico que existam na caneta e deve ser efectuada em canetas economicamente acessíveis. A generalidade dos fabricantes produz aparos EF, F, M, B, BB. Os restantes formatos variam de fabricante para fabricante.

Os tamanhos dos aparos propriamente ditos têm também designações muito variáveis. Como regra genérica é atribuído um número que relaciona o diâmetro do aparo com o seu tamanho. Por exemplo, aparo #4, #5, #6, etc.

Aparos Pelikan

https://www.pelikan-collectibles.com/en/Pelikan/Nibs/index.html

Os aparos sem ponta esférica não têm estas designações e simplesmente são referidos como mais ou menos variáveis em espessura de traço e mais ou menos molhados consoante a quantidade de tinta que deixam no papel. Habitualmente pode ser indicada a espessura do traço mais fino e mais largo que se consegue obter em milímetros para se ter uma noção da variabilidade do traço.

Aparos itálicos e de caligrafia

Esferas

A esfera mais usada é de tungsténio com carbono. A matéria-prima é um pó que se pode moldar à forma esférica com pressão e temperatura aplicadas ao material. É possível conseguir esferas quase perfeitas consoante a qualidade e precisão das ferramentas usadas na transformação do tungsténio de carbono.

A esfera de cerâmica é usada pelo menos por um fabricante japonês: Ohto.

Tintas

Regra genérica: tinta preta tem durabilidade e resistência à deterioração superior a outras cores.

Tintas caseiras: tintas feitas com materiais do dia-a-dia. Podem ter várias origens. Origem vegetal (morangos, amoras, beterraba, espinafre...), mineral (carvão...) e animal. Podem ter água adicionada conforme se deseje liquifazer o material que contém o pigmento.Normalmente preservam-se com sal e um ácido (vinagre ou limão). Caso seja muito aguada pode ser usada goma xantam para espessar. Coagem e filtragem demorados pois devem ser o mais rigorosamente filtradas possível para não danificarem as canetas. A manutenção varia consoante o material usado. Normalmente não são à prova de água mas alguns pigmentos permanecem mesmo depois de molhados tal como as tintas permanentes.

Tintas permanentes: não são à prova de água mas resistem melhor a ser molhadas que as tintas caseiras. Com o passar do tempo vão ficando mais ou menos sumidas. Boas para utilização genérica. Manutenção simples. Limpam-se com água morna e caso necessário um detergente suave. Podem ser de tipo:
- Regular (uma tonalidade);
- Florescentes;
- Sheen (produzem mais do que uma tonalidade de cor ao escrever que varia conforme é absorvida pela celulose do papel e consoante a quantidade de tinta usada no traço);
- Shimmer (contêm partículas metálicas ou metalizadas que ficam na tinta após secagem produzindo brilho conforme o ângulo de incidência da luz);
- Invisíveis (tintas que só são visíveis após serem submetidas a algum processo físico-quimico. por exemplo, as tintas que brilham quando expostas a luz UV ou as tintas que se tornam visíveis com aumento da temperatura).

Tintas à prova de água: tintas que após secagem não são afectadas pela água. Caso sejam molhadas resistem. Boas para alguns tipos de documento e para usar em caligrafia e trabalhos artísticos. Por exemplo com aguarela e lápis molhado.

Tintas para documentos: são tintas à prova de água e com durabilidade que pode chegar a vários séculos. Boas para documentos importantes e escrita que necessite resistir à passagem do tempo. Manutenção mais difícil.

Escolher um instrumento de escrita

A escolha do instrumento de escrita deve responder às necessidades exigidas pelo resultado pretendido, tipo de técnica usada, local onde se usa o instrumento, frequência com que é usado, se o instrumento será transportado com frequência, se será transportado de avião, navio ou por via terrestre, se é para ser usado ao nível do mar ou em grandes altitudes ou em meio submarino, se é usado de forma ininterrupta ou ocasionalmente, se vai ser usado por uma pessoa ou por várias, se é para produzir apenas um exemplar ou para criar milhões de cópias, etc.

Escolher um instrumento de escrita comercial é escolher:
a) um instrumento que possa ser facilmente usado por várias pessoas;
b) um instrumento que seja resistente e suporte os abusos de múltiplas utilizações por vezes sem cuidado;
c) um instrumento que efectivamente reduza o custo da escrita/impressão por unidade (entre tintas, papel, energia, serviços adicionais, manutenção, amortizações, etc);
d) um instrumento que tenha uma capacidade de tinta que evite a constante realimentação com tinta;
e) um instrumento que seja difícil de furtar ou cujo furto não se revele vantajoso.

Escolher um instrumento de escrita pessoal é escolher:
a) um aparo, ou esfera com o qual se goste de escrever e que sirva o nosso tipo de escrita;
b) um sistema de alimentação de tinta para a caneta, que sirva para a tinta que desejamos usar, para o tipo de utilização e transporte que vamos dar ao instrumento;
c) um corpo com dimensões e desenho que se adapte à nossa mão e que resista à utilização dada;
d) um corpo que seja esteticamente do nosso gosto;
e) um conjunto dos items anteriores que possamos pagar sem hipotecar a casa;
f) um objecto que se relacione connosco emocionalmente, que conte parte da nossa história ou daqueles que fazem parte da nossa vida, que reflicta quem ou o que somos e que nos proporcione prazer ao escrever.

Custo dos instrumentos

Instrumentos de escrita pessoal: o mais barato que vi: gratuito.O mais caro que vi: 66.000,00€ (acredito que existam mais caros ainda). Existem todos os preços entre estes dois valores.

€0 - €50: instrumentos de utilização diária e prática. Design funcional, robusto com recurso a materiais mais baratos. Qualidade muito variável desde o mau até ao excelente.
€50 - €150: instrumentos de utilização diária e prática. Design funcional, robusto. Podem aparecer materiais de melhor qualidade. É neste preço que começam a surgir aparos de ou com ouro e com decoração. A qualidade é garantidamente boa a excelente.
€150 - €550: neste intervalo de custo costuma usar-se a expressão "escrita de prestígio" no comércio. São já canetas de elevadíssima qualidade com assistência a cliente ou suporte pós-venda existente. É a partir deste preço que surgem algumas canetas conhecidas.
€550 - €1.000: os fabricantes designam  os instrumentos vendidos por estes preços como "premium", "pro" ou outras designações a apelar à importância que cada um se atribui a si próprio e à noção de estatuto social dos consumidores. Os instrumentos são irrepreensíveis em termos de qualidade e assistência ao cliente. Algumas das canetas mais famosas estão neste intervalo de preços.
Superior a €1.000: a partir deste preço falamos já de jóias. O custo é tão elevado, os materiais por vezes tão raros, o trabalho de artesão tão perfeito que ninguém usa estas canetas no dia a dia. São canetas de coleccionador ou como oferta por algo extraordinário.

Abreviaturas

EDC: Every Day Carry
MS.: Manuscrito
NPD: New Pen Day
NID: New Ink Day

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