Tintas para Escrita - Introdução
Vamos falar do que colocamos nas canetas. As tintas. Primeiro da origem das tintas de uma forma geral e dos materiais usados para as fazer e de seguida uma breve descrição das tintas usadas para escrever e desenhar.
1. Origem das Tintas
A origem da descoberta e utilização das tintas começa de forma acidental. Percebeu-se que se podem gravar sulcos na madeira, rochas e terra e que isso pode ser usado para deixar um registo de algum tipo de informação. Paralelamente a esta descoberta pode ter acontecido que, depois de preparar a caça, alguém procurou limpar a mão numa rocha e deixou a impressão dos dedos; ao manipular as brasas e as cinzas percebeu-se que a fuligem marca com cor preta e pode permanecer bastante tempo; ou, ao moldar terra barrenta para formar algum objecto ou estrutura; ou ainda, ao comer certos frutos percebeu-se que a nódoa de sumo não saía do vestuário.
Destes acontecimentos acidentais à utilização intencional foi um instante.
2. Componentes das Tintas
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Veículos, como a água, óleos com solventes, glicerina ou gel.
Colorantes. Para este efeito podem ser usados diferentes tipos de pigmentos ou corantes. Podem ser de origem natural ou sintéticos.
Auxiliares de conservação da tinta ou da utilização da mesma. Alcóol em casos raros, compostos anti-tensão de superfície, agentes de limpeza, lubrificantes, anti-fungícos, etc.
3. Pigmentos versus Corantes
Destes componentes, os responsáveis pela criação da percepção da cor são os corantes e os pigmentos. Qual é a diferença entre os dois? No fundo, é a diferença entre uma solução e uma suspensão.É mais fácil perceber a diferença se pensarmos em exemplos. Um exemplo de suspensão é a água lamacenta. É água com partículas de lama, sujidade e matérias decompostas que estão suspensas na água. Se esperarmos algum tempo as partículas mais pesadas pousam no fundo e podem ser necessárias semanas ou até mais tempo até as partículas mais leves conseguirem pousar no fundo. Com este exemplo acabámos de descrever as tintas à base de pigmentos. No fundo são partículas sólidas coloridas que estão em suspensão num líquido.
Por outro lado temos as soluções. Por exemplo, água com sal. Os cristais de sal quebram e dissolvem-se completamente na água ao nível molecular. Se deixarmos esta solução tapada durante anos sem ser perturbada nunca vamos ter depósitos de partículas no fundo. Com este exemplo, descrevemos o que é uma tinta feita com corantes.
Nas tintas é exactamente isto que se passa. Tintas à base de pigmentos deixam as partículas coloridas depositadas em cima da superfície. Depois de seca, as partículas com cor permanecem depositadas e preferencialmente agarradas à superfície onde foram depositadas. Ficam unidas fisicamente à superfície onde são colocadas. A luz atinge as partículas e é reflectida com uma determinada frequência produzindo a sensação de cor.
As tintas feitas com corantes, pelo contrário, unem-se molecularmente ou quimicamente, à superfície. Alguns corantes inclusivamente necessitam de um segundo agente que quimicamente irá produzir essa união. Ao usarmos tintas com corantes a tinta não é depositada no material mas passa a fazer parte do material. A luz atravessa os corantes e não é inteiramente reflectida.
Se pensarmos em papel como superfície onde vamos depositar a tinta é fácil perceber que o guache fica depositado em cima do papel e as partículas coloridas ficam agarradas ao papel, como se fossem coladas.
Se usarmos uma tinta de caneta permanente ela não fica depositada em cima do papel, antes é absorvida pelo papel, misturando-se com este e passando a fazer parte do papel.
Os primeiros pigmentos foram criados a partir de várias fontes naturais como a lama, rochas, fuligem, etc. A lama de certas regiões como a região de Umbria, por exemplo é famosa pela sua cor. E por isso é usada misturada com óleo para criar um castanho bastante saturado. Se se aquecer ou cozer este pigmento consegue-se um castanho avermelhado saturado, semelhante a um grená escuro e denso. Também de origem mineral o ocre e sienna são exemplos de cores famosas. Para se conseguir cor preta recorria-se a fuligem de fogueiras ou de lamparinas de azeite. Para criar cor branca, tradicionalmente tem-se usado o gesso e a cal. Em Portugal ainda hoje no sul do país a cal é usada para isolar e pintar de cor branca as habitações tradicionais. O azul ultramarino é conseguido moendo a rocha lápis lazuli. E os amarelos e laranjas tradicionalmente têm também origens minerais.
Os corantes, pelo contrário, são substâncias que são líquidas ou que se podem facilmente diluir em líquidos. Normalmente eram usados mirtilos, amoras, beterraba e insectos ou partes de insectos. A cochinilha é o exemplo mais famoso em que é usado o sangue do insecto para produzir um vermelho vivo e saturado. Ainda hoje uma boa parte do corante alimentar vermelho é feito recorrendo a esta matéria-prima milenar. Percebemos que as substâncias que usamos para criar tintas têm origem em materiais naturais como a lama, rochas, sangue, insectos e sucos de vegetais e que são usados há dezenas de milhares de anos.
Hoje em dia, continuamos a usar estes materiais naturais com a diferença que temos também à nossa disposição materiais sintéticos de grande qualidade para registar com cor em diferentes superfícies. A vantagem dos materiais sintéticos é que normalmente não são tão susceptíveis à acção da luz, do calor e da passagem do tempo como os materiais naturais, conseguindo manter as propriedades reflectoras da cor durante mais tempo de forma inalterada. É por isso que os museus que exibem obras de pintura, desenho ou escrita antiga normalmente necessitam de manter as luzes afastadas das obras e em níveis de luminosidade reduzidos. Para não acelerar a deterioração dos pigmentos e corantes usados.
4. Utilização
Como regra geral, utilizamos tintas de pigmentos quando a opacidade e saturação são importantes, ou quando necessitamos de tapar ou isolar a superfície.
Tintas de óleo, guache, aguarelas, tinta da china, e tintas acrílicas usam pigmentos. São muito usadas em arte, construção civil, madeira e metal.
Existem tintas de corantes para tecidos, madeira, papel, pergaminho e papiro, para marcadores. Estas tintas permitem que a luz atravesse a tinta. Isto tem uma propriedade importante: ao misturar cores não se perde a translucideze os efeitos conseguidos são mais esteticamente funcionais.
Pigmentos misturados resultam numa aparência lamacenta ou pouco saturada, corantes misturados conseguem manter a transparência melhor.
5. Veículo
O veículo ou o meio é o meio onde colocamos o pigmento ou corante. É o meio de transporte do pigmento e corante, digamos assim. Saber se uma tinta é à prova de água é saber se o veículo é à prova de água, pois é este que lhe dá essa característica. Os pigmentos são basicamente pó e são laváveis com água. Mas se os misturarmos com óleo deixam de ser laváveis pois o óleo não pode ser lavado com água. Depois de seco então, é completamente à prova de água.
Da mesma forma a utilização, reacções quimicas e resultado final dos pigmentos e corantes são diferentes caso o seu veículo seja água, alcóol ou outro. A solubilidade do corante é também alterada conforme o veículo usado e as reacções nas superfícies onde a tinta é aplicada muda também bastante conforme o veículo usado.
Vamos agora descrever de forma hiper resumida algumas tintas.
6. Tinta para Desenho
A tinta para desenho é feita à base de água e contém corantes. São tintas muito líquidas o que torna mais difícil controlar o seu comportamento no contacto da ponta das canetas com a superfície de registo. Como usa corantes a tinta perde saturação com o passar do tempo, podendo ficar bastante sumida dependendo da tinta usada.
7. Tintas para Canetas de Tinta Permanente
São tintas muito parecidas com as tintas usadas em desenho. Podem ficar sumidas com o tempo e são muito líquidas o que exige controlo da escrita. Por vezes é adicionado um composto para evitar a tensão de superfície do líquido. Existe uma grande variabilidade nas tintas para estas canetas:
- As tintas para caneta de tinta permanente têm tempos de secagem muito variáveis. Numa tinta muito "molhada" o tempo de secagem pode ser enorme, mas existem tintas de secagem rápida.
- Normalmente não são tintas à prova de água, uma vez que são feitas com corante em base aquosa tal como as tintas de desenho mas existem tintas resistentes à água e mesmo à prova de água para caneta de tinta permanente.
- Normalmente são tintas de corantes mas existem com pigmentos (inclusivamente metálicos e brilhantes).
- Existem tintas com lubrificantes para um desempenho mais suave.
- Existem tintas verdadeiramente permanentes para registo notarial/oficial e mesmo tintas de arquivo que devem durar pelo menos cem anos, apesar de normalmente durarem mais.
Em termos de manutenção, as tintas com maior durabilidade ou com pigmentos exigem uma manutenção atenta e frequente das canetas.
Uma das vantagens destas tintas são a imensa variedade de cores, incluíndo cores fluorescentes, ou seja translúcidas com cores brilhantes.
8. Tinta da China
Uma palavra rápida para a tinta da China, uma tinta feita em base aquosa com pigmentos de carbono recorrendo a derivados de petróleo ou materiais vegetais queimados de combustão incompleta. É fabricada desde o terceiro milémio antes de cristo durante o período neolítico chinês. Depois de seca fica à prova de água devido à forma como os pigmentos de carbono se juntam uns aos outros. Algumas tintas da china podem também conter lacas ou gelatina para torná-las mais resistente à luz e à água. É usada em artes e na escrita.
9. Tinta de Esferográfica
As tintas usadas nas esferográficas são diferentes. Esta caneta e as suas tintas tipicamente conseguem escrever em várias superfícies diferentes com uma escrita pouco suave. A tinta contém solventes oleosos e outras substâncias que permitem uma secagem praticamente instântanea e são incrivelmente indeléveis. Só danificando o suporte de escrita se pode eliminar a tinta. Como possuem óleo podem borrar caso não se deixe secar a tinta antes de tocar.
10. Tinta das Canetas de Gel
Por outro lado as tintas das canetas de gel permitem uma escrita tão suave como a de uma caneta de tinta permanente com uma saturação de cor intensa e brilhante com as vantagens de escrever com uma esfera mas também levam o seu tempo a secar e em muitos casos não são à prova de água. Esta tinta é feita com pigmentos suspensos num gel espesso de base aquosa. Este veículo de gel por ser muito mais viscoso que a água consegue ter maior concentração de pigmento e pode ser usada uma maior variedade de pigmentos como o cobre e óxidos ferrosos. Existe em várias cores bastante opacas, incluindo branco.
11. Tintas Híbridas
As tintas híbridas tentam ultrapassar esta situação porque: -secam quase instantaneamente
-são indeléveis
-permitem escrita suave e "deslizante"
- e permitem escrever com esfera para utilização em várias superfícies diferentes.
De notar que os canhotos preferem habitualmente tintas que sequem o mais rapidamente possível pois devido à posição da mão passam por cima do que acabaram de escrever borrando a tinta sobre o papel. Ou seja, a tinta híbrida é ideal para quem escreva com a mão esquerda.
Espero que tenham gostado e que esta explicação muito básica vos tenha ajudado um pouco nas vossas escolhas de tintas. Escrevam muito, desenhem muito, pintem muito.
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